Santé! Foi durante a fase aguda da pandemia de covid-19 que recebi o convite da socióloga e tradutora Lorena Ferraz para produzir a introdução do livro Geórgia: O Berço do Vinho. Confesso que fiquei muito lisonjeada com a oportunidade. Evidentemente, tive acesso àquele conteúdo rico e com ilustrações belíssimas que me envolveram divinamente. Que honra!
O livro já é um best-seller do autor georgiano Dato Turashvili, lançado em vários idiomas e que, agora, está traduzido para o português, com um pleno trabalho de pesquisa do autor.
Dato Turashvili nos remete à verdadeira história dos vinhos da Geórgia, das uvas, das videiras selvagens domesticadas e cultivadas entre as montanhas do Cáucaso e ao redor do Mar Negro. Estar em verdadeira sintonia com os costumes e métodos ancestrais de elaboração e ainda de seus rituais tanto para fazer quanto para servir a bebida – é, sem dúvida, um grande aprendizado sobre essa terra, outrora dominada pelos soviéticos.
A Geórgia é considerada o berço do vinho, como o autor bem o diz: “Foi a cultura do vinho que definiu nossa arquitetura, literatura e todos os traços de nosso caráter. O vinho moldou as nossas tradições e gostos, a nossa liberdade e amor, a nossa vida e a nossa morte”.
Tive imenso prazer ao ler o livro, por mergulhar na cultura do vinho georgiano, arraigada em todos os seus cidadãos. Ainda nessa obra, podemos apreciar inigualáveis imagens da Geórgia, os seus instrumentos e acessórios para o cultivo e o tratamento das videiras, além dos qvevris, as afamadas ânforas de barro, utilizadas para a vinificação.
Pesquisas arqueológicas atestam que a cultura das uvas e a fabricação do vinho são evidentes na Geórgia no período neolítico, há 8 mil anos. Lá, foram encontradas sementes de uvas e fragmentos de potes de barro com resíduos de vinho resinado e ácido tartárico, de uma época muito anterior à da escrita, quando o homem se alojava em cavernas.
E onde tem uva tem vinho, uma vez que a fermentação espontânea acontece pela atividadedas leveduras selvagens, presentes nas cascas dessas frutas. Certamente também há recipientes de cerâmica, possivelmente ânforas, que são o símbolo dos vinhos georgianos.
Esse povo acredita que, se Deus criou o homem do barro, a ânfora é uma dádiva divina. No processo ancestral, a fermentação das uvas se dá em grandes ânforas de barro ou qvevris enterrados no solo até o pescoço e selados por argila ou cera de abelha. É uma forma totalmente natural de vinificação. Cachos inteiros são fermentados sem qualquer aditivo ou conservante. É, inclusive, o método de elaboração do vinho laranja, hoje tão em voga, no qual uvas brancas são vinificadas com as cascas, como nos vinhos tintos. Além dessa técnica, há muita mística e um valor simbólico e espiritual agregado. Tem quem afirme que a elaboração dos vinhos “é quase como uma licença divina”.
A vitivinicultura georgiana se apoia na videira selvagem que, nos primórdios, foi domesticada. O livro traduz essa cultura georgiana e sua técnica peculiar de elaborar o vinho. Durante a leitura, ficamos a par das referências ancestrais dessa terra longínqua e encantadora.
O contato com a versão traduzida para o português muito me emocionou e acredito que irá emocionar a todos os amantes do vinho. Eu me identifico com o conhecimento de tão complexa obra, que, escrita por um georgiano, nos presenteia com propriedade sobre detalhes da cultura, costumes e tradições do povo.
Agradeço à equipe editorial da Inbraedh (www.inbraedh.com.br) e à Lorena Ferraz pela perfeita tradução e pela oportuniade que tive de escrever a introdução dessa obra.
Acrescento que a Lorena, além de tradutora e socióloga, é também sommelière e winemaker, produtora dos vinhos Lorangi Marani, em Goiás, pertinho de Brasília, elaborados no método ancestral georgiano. E ela já foi citada aqui na coluna.
A edição do livro em português do autor Dato Turashvili é um grande ganho, o resgate de uma vivência legítima dessa história a ser preservada e certamente propagada. Considero um presente para os amantes do vinho e para a nossa vitivinicultura, sem a menor chance de dúvida.
Vale lembrar que o vinho é a bebida do prazer e da verdade, o líquido que nos alegra e faz o mundo ser mais prazeroso para todos nós.
O livro está à venda pelo preço de R$ 41,40, no site da editora e na Amazon, em versão digital. Em breve, estará disponível também em versão impressa.
No site da editora, é possível baixar uma pré-visualização, com a minha introdução e algumas páginas.
Até a próxima taça!
MOMENTODIVINO@ATRIBUNA.COM.BR
@CLAUDIAENOAMIGOS
