Já se sabe que a cerveja é uma bebida alcoólica carbonatada, produzida através da fermentação de cereais maltados como a cevada e o trigo. No seu preparo a água é importante parte do processo e algumas receitas levam ainda lúpulo e fermento, além de outros temperos, como frutas, ervas e outras plantas.
Há evidências que o surgimento da cerveja se deu há cerca de 8.000 anos a.C. na antiga Mesopotâmia, hoje Iraque. Também os babilônios já fabricavam mais de 16 tipos de cervejas (cevada, trigo e mel) há mais de 4.000 anos a. C. Imagens do passo a passo da sua elaboração são os melhores registros dessa época através dos hieróglifos. Até o Código de Hamurabi, o mais antigo livro de leis, aproximadamente em 1.770 a. C., declarava a pena de morte aos que diluíssem o líquido.
Entretanto, sem dúvida, os mosteiros foram o principal abrigo para a criação da cerveja, pois os monges eram letrados, e tornaram-se mestres no aprimoramento das melhores técnicas de elaboração. E já no século VII iniciou-se a produção em escala nos mosteiros.
Curioso é que na Idade Média o consumo per capita era em torno de 400 a 1000 litros por ano, visto que a cerveja era nutritiva e utilizada como alimento, até dizia-se tratar-se de pão líquido e saudável, aliás, uma bebida mais segura que a própria água, sujeita a todos os tipos de contaminação. Hoje vivemos tempos mais sóbrios, entretanto, ainda assim os cidadãos tchecos lideram o consumo com 168 L/ano per capita, enquanto nós, brasileiros, apenas 64 L/ano.
As cervejas trapistas estão em evidência por serem muito saborosas, e são assim chamadas porque os monges são de uma ordem católica de vida comunitária, conhecida também como "Ordem Cisterciense da Estrita Observância", seguindo a regra beneditina "Ora et Labora" que prega obediência, pobreza, humildade e silêncio. Produzem cerveja dentre muitos produtos como pães, bolos e até cosméticos.
Hoje são 20 abadias que compõe a Associação Trapista Internacional, e 10 delas produzem só cervejas. A Bélgica tem seis: Rochefort, Achel, Orval, Westmalle, WestVleteren Oester e Chimay. Holanda duas: Koningshoeven (La Trappe) e Klein-Zundert. Áustria uma: Stift Engelszell. EUA uma: St. Joseph'sAbbey - Spencer e Itália uma: Abadia das Três Fontes.
As trapistas devem ser feitas no próprio mosteiro, pelos monges ou sob sua supervisão. E, sem fins lucrativos, pois os recursos são para o sustento dos monges e preservação das abadias. O excedente é doado para causas sociais e pessoas carentes. A qualidade é impecável por ser controlada permanentemente.
A Adega Santista, especializada na bebida, recebeu Aline Araújo, sommelière da Bier & Wein, para conduzir degustação dos rótulos da cervejaria trapista, La Trappe. Aline nos contou um pouco da história da La Trappe. Localizada na Holanda, em Tilburg, a Abadia Cisterciense "Onze Lieve Vrouw van Koningshoeven" tem todo um ambiente de reflexão e calma do mosteiro, o que reflete-se na qualidade de suas cervejas. Dentre as cervejas Trapistas, a La Trappe é a que possui a maior variedade de estilos. Sua linha de cervejas é produzida apenas com ingredientes puros e naturais: água, malte, lúpulo e levedura. Outro segredo é a dupla fermentação, que ocorre primeiramente nos tanques e depois na própria garrafa. Assim, tanto o sabor quanto o aroma das cervejas, continuam evoluindo ao longo do tempo, seguindo receitas seculares, mantidas zelosamente em segredo.
Assim como o vinho, as cervejas devem ser degustadas em copos transparentes, tipo tulipas, para uma melhor apreciação de sua cor, aroma e sabor.
PROVEI E INDICO
La Trappe Puur (4,5% álcool) Categorias: Ale*, Belgian Blond
Clara, lúpulo, orgânica, fresca, fácil de beber. Notas de abacaxi. Pratos leves, queijos meia cura, frutos do mar, salmão.
La Trappe Witte (5,5% álcool) Categorias: Ale, Belgian Witbier
Clara, de trigo, refrescante e aromática, com notas frutadas e cítricas. Tem a acidez ideal para acompanhar peixes, frutos do mar, saladas e pratos leves.
La Trappe Blond (6,5% álcool) Categorias: Ale, Belgian Blond
Clara, de espuma persistente, aroma de banana, paladar frutado, condimentado e suave amargor. Excelente para peixes, queijos e saladas.
La Trappe Triplel (8,0% álcool) Categorias: Ale, Belgian Tripel
Cor de mel, lupulada, aroma e sabor frutado de damasco, doce-amargo. Carne de porco, frango, crustáceos, queijos azuis, e sobremesas a base de frutas.
La Trappe Quadrupel (10,0% álcool) Categorias: Ale, Belgian Quadrupel
Escura, complexa e forte, com notas de especiarias, malte e frutas secas. Harmoniza com pratos e queijos fortes, doces e bolos natalinos, além de ser um excelente digestivo.
*Ale é o estilo da cerveja que tem fermentação em altas temperaturas entre 15 a 24° ou até mais, num curto período de três a cinco dias.
Belgian Ale - cerveja que pode ir de um amarelo dourado até à cor de cobre, boa presença de frutas, malte e especiarias tanto no aroma como no sabor. Têm espuma branca, cremosa e não muito duradoura.
Até a próxima taça!