Santé! Montalcino é uma belíssima vila medieval murada, localizada no centro da Itália, na província de Siena, região da Toscana. É mundialmente conhecida por produzir o vinho Brunello de Montalcino e desde 2004 está registrada na UNESCO como patrimônio da humanidade.
A comuna de Montalcino, com sua linda paisagem, é perfeita para o cultivo das vinhas. Também se beneficia do clima mediterrâneo tendendo para seco da costa toscana, de solos de argilo-calcáreos, ricos em galestro (pedras que se desfazem em lâminas com pontas pronunciadas) e sob a proteção do monte Amiata contra tempestades e chuvas de granizo, o que para a cultura da videira é excepcional, resultando em uvas muito concentradas e longevas.
Os vinhos são elaborados 100% com a casta Sangiovese*, uva predominante na Toscana, mas aqui denominada Brunello. Aliás, é um clone extremamente especial da Sangiovese, fruto de muita pesquisa feita por Clemente Santi, viticultor de muita visão, que queria destacar os vinhos de sua comuna, no início do séc. 19. O resultado de seus estudos foi um tipo de Sangiovese grosso e com características distintas: mais escura, marrom, e com casca bem grossa, que dá muita cor e tanino marcante, oriundos do terroir diferenciado de Montalcino, amadurecendo mais tarde que a Sangiovese da região de Chianti, concentrando mais açúcar, o que posteriormente dará mais álcool ao vinho.
E foi no final desse mesmo séc. 19, em 1880, que Ferrucio Biondi-Santi, neto de Clemente, iniciou a vinificação do pioneiro Brunello de Montalcino, o conhecido e afamado Biondi-Santi.
A vinificação dos Brunellos se destaca pelo longo tempo de maceração (estágio em que o mosto obtido das uvas esmagadas permanece em contato com as cascas) desta uva de grande estrutura e potência e o estágio em carvalho que originalmente ocorre em bottis (tonéis de 3, 4 ou 6 mil litros) de carvalho eslavo (comumente proveniente da área que se estende sobre a região de fronteira da Sérvia, Croácia e Bósnia, ao longo do rio Sava).
Atualmente um Brunello até pode estagiar em barricas francesas (225 litros), o que o faz perder muito de sua característica e as vezes até a sua personalidade.
Por Decreto, em 1º de julho 1980, o vinho Brunello de Montalcino recebeu a mais alta classificação italiana, a denominação de DOCG Denominação de Origem Controlada e Garantida. Decreto esse modificado em 1998, na tentativa de adaptar sua regulamentação ao gosto moderno.
A classificação dos vinhedos de Montalcino é:
DOCG Brunello di Montalcino (tinto)
DOC Rosso di Montalcino (tinto)
DOC Moscadello di Montalcino (vinho doce)
DOC Sant'Antimo (branco e tinto)
A legislação exige que um Brunello seja elaborado com uvas cultivadas exclusivamente na zona prevista em Lei e da variedade Sangiovese, regionalmente denominada Brunello. É permitida, nos rótulos, a referência da região de onde vêm as uvas. Sua graduação alcoólica deve ser no mínimo 12%. Seu envelhecimento é de no mínimo de dois anos em carvalho de qualquer tamanho (antes eram três anos), não podendo ser liberado para consumo antes de cinco anos. Já ao "Riserva" acrescenta-se mais um ano.
O resultado desse processo é um vinho estruturado, intenso, encorpado, num rubi escuro com reflexos tendendo ao granada, na boca muita fruta madura como ameixa, especiarias, toque balsâmico, terroso, taninos firmes e potentes, enfim complexo e etéreo.
Um bom Brunello pode ser guardado por 10, 30, 40 anos se mantido em condições ideais. Aliás, identifica-se com os Barolos do Piemonte por sua longevidade.
Safras excepcionais: 1945, 1955, 1961, 1964, 1970, 1975, 1985, 1988, 1990, 1995, 1997, 2004, 2006, 2007, 2010, 2012.
Safras ótimas: 1998, 1999, 2001, 2003, 2005, 2008, 2009, 2011, 2013.
Diversos produtores deste ícone italiano brilham além do grande Biondi-Santi, cito alguns: Altesino, Argiano, Salvioni, Caprili, Banfi, Bueno-Cipresso, Camigliano, Cantina di Montalcino, Capanna, Casanova dei Neri, Cerbaiona Di Molinari, Conti Constanti, Donatella Cinelli Colombini, Fattoria dei Barbi, Fattoria dei Barbi, Ferro di Buroni Carlo, Frescobaldi, Il Poggione, La Fortuna, La Poderina, La Serena, La Velona, Lisini, Luce della Vite, Mastro Janni, Poggio Antico, San Felice, Siro Pacenti, Talenti, Verbena etc.
Particularmente recomendo decantar esse vinho por duas horas no mínimo para evidenciar suas características olfativas e gustativas. Harmoniza com carnes em geral, todos os tipos de cogumelos, trufas, queijos duros e fortes. É um grande vinho para se beber até sem acompanhamentos ou acompanhantes! É um vinho de meditação!
Não menos potente, porém mais discreto e sutil é o DOC Rosso di Montalcino, versão júnior do Brunello. Vinificado com a mesma uva Brunello , mas aberto a cortes com outras uvas em pequena proporção, é um vinho menos encorpado, mas com personalidade, muita fruta e sabores intensos, não tão complexo e evidentemente menos longevo. Utiliza vinhedos mais jovens, tendo menos tempo de maceração das uvas com o mosto e pode ser liberado da adega com um ano de idade de amadurecimento. É um vinho para ser bebido mais jovem e é mais acessível também. Este vinho destaca-se tanto que muitos apreciadores o preferem ao Brunello.
*sangiovese - casta tinta extremamente variável (suscetível à mutações) a mais cultivada na Itália, e muito comum na região central (Toscana, Emiglia-Romana, Marche, Abruzzo, Úmbria e Lazio). Conhecida também como: Sangiovese Grosso, Sangioveto, Brunello, Prugnolo Gentile, Morellino, Sangiovese Di Lamole, Sangiovese Piccolo, e como Nielluccio na Córsega (Fr).
Deguste as dicas e até a próxima taça!
momentodivino@atribuna.com.br
Caprli, Brunello Di Montalcino 2008, Toscana, IT
Uva: Sangiovese / Brunello.
Cor: rubi intensa com reflexos granada.
Nariz: ameixa e cerejas maduras, figo, alcaçuz, toque terroso, couso.
Boca: um espetáculo, seco, encorpado com ótima acidez e taninos já amaciados, 15º GL, potente estruturado, final longo e explosivo.
R$ 327,80 na Enoteca Decanter Vinhos - www.decantersantos.com.br